Dia 11 de outubro, teremos o Dia Nacional de
Prevenção da Obesidade, data criada há cinco anos pelo Ministério da Saúde para incentivar a debate sobre o tema e ações para melhora da qualidade de vida, com mudanças de hábitos
e prática de atividade física.
A Organização Mundial de Saúde aponta a obesidade
como um dos maiores problemas de saúde pública no mundo. A projeção é que, em 2015, cerca de 2,3 bilhões de
adultos estejam com sobrepeso; e mais de 700 milhões, obesos.
Vários estudos têm
demonstrado que a obesidade está fortemente associada a um risco maior de desfechos, sejam cardiovasculares, câncer ou mortalidade. A obesidade é causa de incapacidade funcional, de redução da qualidade de vida, redução da expectativa de vida e aumento da mortalidade. Condições crônicas, como doença renal, osteoartrose, câncer, diabetes tipo 2, apneia do sono, doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA), hipertensão arterial e, mais importante, doenças cardiovasculares estão diretamente
relacionadas com incapacidade funcional e com a obesidade. Além disso,
muitas dessas comorbidades também estão diretamente associadas a doenças cardiovasculares.
Muitos estudos epidemiológicos têm confirmado que a perda de peso leva à
melhora dessas doenças, reduzindo os fatores de risco e a mortalidade.
Este 11 de outubro
é também um dia para cobrar do governo ações mais efetivas na prevenção e controle da doença. Há cinco meses, o Ministério da Saúde divulgou
a portaria 424, que redefine as diretrizes para a organização da prevenção e do tratamento do sobrepeso e obesidade como linha de cuidado prioritária da Rede de Atenção à Saúde das Pessoas com Doenças Crônicas. O fato é que, na
prática, nada foi feito. Colocar a portaria em prática depende de um
trabalho integrado entre o Ministério e as secretarias estaduais e municipais de saúde, para traçar planos regionais de ação. Enquanto isso não ocorre, assistimos ao crescimento vertiginoso do sobrepeso e da obesidade no país,
como apontam dados divulgados pelo próprio Ministério da Saúde, em agosto deste ano, pela pesquisa Vigitel: 51% da população brasileira está com excesso de
peso; e 17%, obesa.
“Vale lembrar que a
pesquisa é feita por telefone e as pessoas costumam subestimar seu peso, o que significa que este número deve ser muito mais alto do que o levantamento aponta”, salienta a diretora da Abeso, Maria Edna de Melo.
Recentemente a
Associação Médica Americana reconheceu a obesidade como doença, uma forma de fortalecer
ações voltadas para o problema, proporcionando a ampliação da cobertura no
atendimento de planos de saúde especificamente para a obesidade,
independente de outras doenças associadas. O foco e atenção especial da
Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica
(Abeso) estão voltados à obesidade infantil. O sobrepeso e obesidade na faixa
dos cinco aos nove anos de idade é preocupante, atingindo 15% dessa população.
Nos EUA, por exemplo, embora as taxas de obesidade em geral tenham se
estabilizado entre crianças, novo relatório aponta que cresce assustadoramente o número de crianças severamente
obesas. A obesidade severa já atinge 5% de crianças e jovens naquele país
e é a subcategoria de obesidade que mais cresce na juventude. No Brasil, pela
primeira vez, o excesso de peso atinge mais da metade da população brasileira. “O México já ultrapassou os Estados Unidos em
número de pessoas acima do peso e obesas. Não queremos ser o próximo país a chegar ao topo do ranking”,
salienta o presidente da Abeso, Mario Carra.
“Precisamos de
investimento por parte do governo, tanto na prevenção quanto na educação da
população, particularmente nas escolas, uma vez que atuar com as crianças traz muito mais impacto, considerando a criança um ser multiplicador”, destaca a diretora da Abeso, Cintia Cercato. A especialista aponta algumas saídas a serem consideradas: reduzir impostos de alimentos como
frutas e verduras e alimentos com baixo teor de gordura, facilitando o acesso; investimentos em espaços para prática de esporte, investimento em
segurança, permitindo que as crianças voltem a brincar fora de casa.
“Educação está
diretamente associada a melhores hábitos alimentares”, destaca Maria Edna. O
próprio Vigitel confirma isso. Frutas e hortaliças estão presentes regularmente no cardápio de 45% dos brasileiros que concluíram, no mínimo, 12 anos de estudo. O percentual reduz para 29% entre as
pessoas que estudaram até, no máximo, oito anos.
Levando em consideração
a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 400 gramas diárias de
frutas e hortaliças, as proporções vão para 31% para quem tem 12 anos e mais de
escolaridade e 18% para quem não conclui o ensino fundamental ou tem menos de
oito anos de
escolaridade.
A gordura saturada também é mais comum na mesa das pessoas com menos estudo:
32% comem carne com excesso de gordura e 53% bebe leite integral regularmente.
Já entre a população com maior escolaridade, os percentuais registrados estão
abaixo da
média nacional, com 27% e 47%, respectivamente.
A pesquisa revela também que 45% da população com mais de 12 anos de estudo
pratica algum tipo de atividade física (no horário livre de lazer). O
percentual diminui para menos de um quarto da população (21%) para quem estudou até oito anos. Os homens (41%) são mais ativos que as mulheres (26%). A frequência de exercícios físicos no horário de lazer entre mulheres com mais de 12 anos de
estudo (37%) é o único indicador da população feminina que figura acima da
média nacional (33%).
Outro ponto a
destacar é o acesso a um tratamento completo, multidisciplinar
(endocrinologistas, nutricionistas, professores de educação física...) e que, em alguns casos, exige, sim, o tratamento farmacológico. “Por que se aceita tomar um remédio para tratar o diabetes ou qualquer outra doença crônica e não se aceita bem a via medicamentosa para o tratamento da obesidade, que também é uma doença
crônica?”, questionam os especialistas.
Fonte: ABESO
Silvania Sergent
Nutricionista Clínica